sábado, 26 de dezembro de 2009

A cor de Santa Cruz (texto publicado na Gazeta do Sul de hoje)

Como você define a cor da cidade na qual você mora? Ela é cinza? Ela é verde? É colorida? Tem cor de sujeira? Nunca reparou? Não faz diferença? 

Clique aqui para ler o texto todo.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Os dez cartazes de filmes de 2009

Tempo de listas. Pois aí está a minha lista dos cartazes de filmes que achei mais interessantes em 2009.
Até observei cartazes brasileiros durante o ano, mas nada me chamou muita atenção nesse sentido.
Pensei em escrever minhas motivações para este ou aquele, mas posso sintetizá-las em duas coisas que me agradam em cartazes: a sensação de um cartaz que provoca a reação "o quê está acontecendo aí" e a percepção de que estou vendo algo agradável (aquilo que noutros tempos podíamos chamar simplesmente de belo).
Nem sempre, como dá para notar, essas duas coisas convivem.
Outro problema é não ter visto o filme. Porém, essa é a situação da maioria das pessoas que têm contato a primeira vez com o cartaz e precisam construir algum significado sobre ele. Foi, portanto, isso que levei em consideração.



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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Identidade visual da EURO 2012 (Polônia/Ucrânia)




A marca desenvolvida pelo estúdio português Brandia Central para a Euro 2012 me agradou bastante.
De acordo com as informações disponíveis, o uso da imagem de uma flor e a forma como ela foi representada têm a ver com uma tradição artesanal do interior de Polônia e Ucrânia chamada ‘wycinanka’.


Como será a primeira vez que a Euro será realizada em dois países e, para completar, essas nações faziam parte do antigo bloco comunista, a organização - e a IV tenta transmitir isso - tem enfatizado o conceito relacionado a uma nova história que pode ser construída conjuntamente. O slogan dessa Euro será 'Creating History Together'.
As outras leituras da marca são mais diretas. As cores das flores laterais (relacionadas às bandeiras de cada país), a bola, a imagem das pessoas e assim por diante, são referências mais constantes.
O vídeo de apresentação ficou bem interessante e didático.
Parece-me uma marca atraente, cheia de simbolismos relevantes e consistentes e pode servir como motivação para textos, releases, discursos e debates. Tática já utilizada no lançamento da marca em Kiev na semana passada.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O suspiro


Tem dias que fico pensando nas razões que me fazem manter este blog bissexto. Olho tantos que existem por aí e penso que boa parte deles serve para o auto-elogio, para a divulgação de asneiras e de sacadas estúpidas ou - o que nos salva de virarmos estátuas de sal - de conteúdos consistentes, atualizados, geniais e pertinentes.
Há de tudo, mas desse tudo há mais de certas coisas do que de outras. As redes sociais e toda a tralha disponível na web se parecem, cada vez mais, com BBBs portáteis e disponíveis a qualquer pessoa com acesso à internet. Quase disse qualquer pessoa que saiba escrever e que tenha acesso à rede. Basta, como já se sabe, o acesso.
Olho, muitas vezes, o que postei e fico matutando. Censuro-me quase sempre. Dias depois dou uma espiada no que está aqui e deixo mais por preguiça ou por sabe-se lá quê sentimento do que por convicção.
Sim, bem sei, não devia depositar tanta reflexão nessas postagens. É inevitável.
Não é possível que não haja custo embutido nesse trânsito quase sempre irrefletido de dados. O valor da memória física (mesmo sendo nas “nuvens”) de tanta coisa dita, postada, twittada, hospedada ou gravada não deve ser um maná oferecido por um deus bom.
Deve ser o estímulo ao trânsito o grande interesse disso tudo. Há bem pouco tempo pagávamos luz, água e telefone. Agora há a tal da conexão “rápida” com a web que acrescenta mais uns dois ou três valores de conta de água por mês.
Não se trata de uma avaliação protomarxista. É só uma reflexão ocupando espaço na rede e tomando o tempo de quem escreveu e de quem leu, está lendo e lerá.
Se tornar público qualquer suspiro que se dê acabou virou o leitmotiv da maioria dos conteúdos publicados no ciberespaço, cá está meu suspiro (breve) de hoje.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Foto Menu: exposição fotográfica (layout de folder/catálogo)



O folder/catálogo para a Exposição Fotográfica "Foto Menu" foi desenvolvido pela aluna Desirê Pereira Allram como exercício prático de design e produção gráfica na disciplina de Artes Gráficas (2009/2 - PP/Unisc).
Todos os alunos da disciplina de Artes Gráficas apresentaram individualmente uma proposta.
A exposição iniciou hoje na Cafeteria Iluminura e deverá durar até o final de dezembro.
As fotos foram produzidas pelos alunos de Gastronomia durante uma oficina com o prof. Alexandre Borges e a coordenação geral da exposição ficou por conta da profa. Mônica Pons.

A exposição faz parte de uma atividade conjunta entre a Graduação Tecnológica em Gastronomia, o Dep. de História e Geografia e o Dep. de Comunicação Social.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Aol com logo cambiante



A AOL agora é Aol.
O logo agora são logos.
Tudo para adequar a marca ao novo posicionamento.
Mais informações em readwriteweb.com

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O livro dos insultos (H. L. Mencken)



Conheço lotes de jornalistas, mas nunca algum deles me falou de H. L. Mencken.
Semana passada encontrei o livro na Livraria na Unisc e acabei comprando mais porque gostei do título e da época na qual foram escritos a maior parte dos textos (décadas de 1920 e 30) do que por saber alguma coisa sobre o autor.
Não demoro pra descobrir que se trata de uma figura única no jornalismo.
Polemista de primeira ordem, ele conseguiu ser popular e extremamente ácido ao mesmo tempo.
Num tempo de adesismo voluntário, de jornalismo juvenil e de conteúdos infantis oferecidos como contemporâneos e acessíveis, vale a pena ler o sujeito e ver que podemos estar andando para trás. Ou sei lá para onde.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

sábado, 14 de novembro de 2009

Ares de Kafka



Saiu na Gazeta do Sul de hoje o texto que escrevi sobre minhas impressões de Praga.
Nos mesmos dias que estive por lá, o fotógrafo e amigo Jô Nunes também esteve. As fotos, portanto, são dele.
Os links para o texto seguem abaixo.
Agradeço, mais uma vez, pela edição caprichada do Romar e do Mauro da Gazeta.

Ares de Kafka: Capa Magazine
O delírio de Praga: Praha, Prague, Prag: página 4
As memórias: página 5

Obs.: a foto acima é minha e sintetiza Praga - cor, som e vibração

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

De cada 100 tweets...

A Superinteressante deste mês (edição 270 - out.) publicou dados de uma pesquisa realizada pela Universidade de Harvard e pelo Sysomos Intelligence a respeito do conteúdo dos tweets.

De cada 100 tweets:
40 são bobagens (tipo "o que eu almocei hoje");
38 são conversas entre amigos;
8 são notícias e links legais (re-tweets);
8 são mensagens corporativas;
4 são irritantes (spam);
2 são outras coisas.

Reproduzi as categorias exatamente da forma como a revista as descreveu.
A pesquisa, parece-me, quantifica aquilo que qualquer observador menos deslumbrado já sabia: um imenso trânsito de coisas geralmente inúteis.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Distopia, literatura, mídia, tecnologia e imaginário

Já devia ter feito isso antes. Pois bem, faço agora.
Estou cursando o doutorado em Com. Social pela PUCRS e aproveito este blog para tornar público (além daqueles que já venho chateando com esse papo há mais tempo) o meu tema.
Estou trabalhando com distopia, literatura, mídia, tecnologia e imaginário a partir de seis narrativas: Nós (1924) de Evgueny Zamiatin, Admirável mundo novo (1932) de Aldous Huxley, 1984 (1948) de George Orwell, Revolução no futuro (1952) de Kurt Vonnegut Jr, Fahrenheit 451 (1953) de Ray Bradbury e o conto Minority report (1956) de Philip Dick.
Espero, dessa forma, reunir dicas, sugestões, críticas, enfim, colaborações para esse tema.
Aproveito para reproduzir parte de um texto que escrevi sobre a noção de distopia.
...
(...)

As distopias tratam normalmente de projetar maus lugares (dis = mau / topos = lugar), sociedades nas quais a felicidade não se realiza, onde uma idéia de coletivismo age sobre as liberdades individuais e a moral está colada a um poder absoluto e onipresente. Atribui-se a John Stuart Mill o primeiro uso do termo distopia em 1868 durante uma sessão do parlamento inglês. A literatura distópica é devedora dessa visão e aplicação original de Mill que considerava certos posicionamentos políticos da época como capazes de conduzir a sociedade inglesa a um mau lugar, a uma distopia.A virada do século XIX para o XX apresenta contornos políticos, sociais, econômicos, científicos e culturais que estimulam a criatividade de muitos escritores. Podemos destacar Júlio Verne e H. G. Wells como os primeiros expositores de romances ou novelas distópicas modernos (apesar de suas obras serem mais facilmente identificáveis como ficção científica).
Esse começo de século é marcado por uma série de inventos e possibilidades no campo tecnológico que prometem um mundo, cada vez mais, dependente da ciência e tecnologia. Em menos de quarenta anos, contando a partir do fim da década de 1870 até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, o mundo assiste ao aperfeiçoamento no uso da energia elétrica (principalmente através das mãos de Thomas Edison), a introdução das execuções da pena capital através de cadeiras elétricas (1880) nos Estados Unidos, a invenção do telégrafo (Guglielmo Marconi) e a primeira exibição do cinematógrafo do Irmãos Lumière em 1895, Henri Becquerel descobre o fenômeno radioativo em 1897, Marconi faz a primeira conexão transatlântica sem fio em 1901, o primeiro avião consegue voar em 1903 (Irmãos Wright), Fellipo Marinetti publica o Manifesto Futurista em 1909, o primeiro bombardeio aéreo acontece em Trípoli em 1911 (contra alvos civis). Em 1914 eclode a primeira Guerra Mundial na Europa e o modo de fazer guerras muda de forma radical. A tecnologia e o uso de equipamentos baseados na ciência moderna são fundamentais para ampliar a eficiência nos combates. Pela primeira vez gazes químicos são utilizados em campos de batalha. A morte em massa torna-se mais racionalizada e eficiente.
O homem capaz de conduzir o conhecimento a uma tecnologia redentora, que faz o homem viver mais, que reduz riscos, que impõe uma nova dinâmica ao cotidiano, também é capaz de conduzir a sociedade a um novo repertório de medos e incertezas sobre as novas formas de ser dominado, controlado, constrangido ou ameaçado.
A rápida digressão esboçada acima não cessa com a Primeira Guerra. As formas de totalitarismo inauguradas na Europa na primeira metade do século XX influenciam de forma decisiva o trabalho literário de autores como Evgueny Zamiatin, Aldous Huxley e George Orwell. A literatura distópica produzida por esses três autores se constitui, possivelmente, como a base mais conhecida da distopia como motivo literário.
Durante todo o século serão escritos livros que retratam mundos distópicos. Essas narrativas guardarão como motivos comuns: o controle sobre o indivíduo e as tentativas de transgressão como forma essencial de sobrevivência, a dúvida sobre a noção do real, a estabilidade social (geralmente imposta por uma relação vertical) facilitada por dispositivos burocráticos e tecnológicos “avançados”, além de outras questões mais específicas a cada narrativa ou autor. Haverá, sobretudo, um relato de desencanto sobre esses mundos futuros, aparentemente, gerados com base numa radicalização dos mundos que fazem parte da vida dos seus autores.
Os avanços nas ciências naturais e exatas a partir do século XVII ofereceram condições para um amplo desenvolvimento tecnológico no século XIX e XX. As realizações tecnológicas e as nações que as engendram começam a ganhar destaque no cenário político, econômico, social e militar. A sociedade dependerá e viverá cada vez mais baseada numa era tecnológica.


quinta-feira, 8 de outubro de 2009

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O caminho de cada um

Na 28 de Setembro, entre as quadras da Deodoro e da Floriano, há um corredor que desemboca num estacionamento. Nesse espaço é possível enxergar a Catedral num ângulo pouco comum. Vejo um sujeito admirando essa vista. Caminhava pela calçada e repentinamente relaxou o tranco. Torno-me ele.

Olhava cheio de esperanças aquele corredor, um olhar abobado e sonhador. Mãos para trás. Fitou por um bom tempo as paredes, o calçamento irregular e a Catedral acima de tudo.

Naquele instante ele construiu sua própria rua. Ali só haveria uma casa. Sem certeza, pensava se seria um sobrado rente à rua ou um chalé com um belo jardim. Uma coisa era certa, naquela rua só haveria uma casa, a sua. Nada de asfalto. Imaginava o granito reluzente. As pedras que nas noites de lua generosa oferece um caminho prateado. Que nos dias de garoa oferecem perigos e reflexos incertos. Imaginava-as como poros, como uma pele que se estende pelo chão e ao sol encanta e seduz.

Naquela rua não seria permitido que camionetas estacionassem no oblíquo. Já era demais vê-las atravessadas nas ruas largas da cidade. As placas de indicação não seriam raras. Os incautos não se sentiriam perdidos. Indicações para a capital, para outras cidades do interior, para os bairros. Ninguém poderia acusá-lo de ter negligenciado informação.

Não permitiria que a hepatite urbana invadisse sua rua. Na verdade, ele sentia que a única rua daquela cidade na qual ele poderia arbitrar era essa, uma rua imaginária e intocável.

Haveria uma mesa em frente, na calçada. Para receber amigos, convidados, Anas e Lyas, se fosse o caso. Deixava-se levar por uma ponta de maldade em seus pensamentos: aquela mesa seria também um indicador para os que “não merecem dividir a mesa comigo”. Sem querer, um sorriso irônico se desenhava nos lábios.

Pensara até num dispositivo legal que não permitisse carros e motos de som na rua. Imaginava-se persuadindo vereadores a encaminhar leis que asseverassem: “é terminantemente proibido o trânsito que qualquer veículo com equipamento de divulgação sonora na Rua...”. A lei já parecia tão boa e tão adequada que tentava imaginar o que impedia que tal benefício fosse oferecido a todos os cidadãos.

Já sabia todos os detalhes da rua. Faltava, ainda, um nome. Não tivera coragem de imaginar seu próprio nome dado a ela. Lembrou do avô, de uma tia também. Seria indigno, pensou, ele nomear o logradouro por capricho, por nepotismo nominal. Não há antepassado que mereça um mérito por meios tortos. Moralmente, o pensamento procedia. “Deixemos a Deus esse tipo de escritura”, imaginou ainda. “Quem sabe Rua do Ipê?!” Não havia o tal ipê, mas nada impedia de plantá-lo. Um caso raro se apresentaria. O motivador do nome surgiria depois. E no ipê ninguém tocaria. Um ipê não é um bonsai para ficarem trançando arames e aparando pontas.

Há tempos saíra da estática inicial. Caminhava e pensava na sua rua. Um despertador grita ao seu ouvido. Acorda o sujeito. Uma buzina violenta faz lembrá-lo de que nas ruas onde o sonho não perambula, nem as faixas para os caminhantes lhes pertencem.