quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Sabres e Utopias

Como o escritor peruano Mario Vargas Llosa foi definido, na manhã de ontem, como o Nobel de Literatura deste ano, resolvi postar essa capa que acho uma bela aplicação de uma metáfora visual.
Fica a homenagem e o exemplo de uso do recurso criativo sobre o qual tanto falo em sala de aula.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Tempos de ufanismos

Santa Cruz está ritmo de festa. Passado o 20 de setembro, a Oktoberfest se aproxima e há cores nas ruas e praças. Este ano está havendo um especial empenho nessa questão das cores e até as floreiras da rua principal receberam o amarelo-vermelho-e-preto que fazem referência, obviamente, à bandeira da Alemanha. Há também as faixas penduradas nos arcos e o Túnel Verde está, portanto, tomado pelas três cores.
Isso causa certa curiosidade aos visitantes, orgulho a uns, agressão a mais tantos e indiferença a sabe-se lá quantos. Tenho a minha opinião sobre isso.
Sabidamente essa festa, a Oktoberfest, não tem relação histórica com os antepassados alemães que para cá vieram lá pelo século XIX. Foi uma festa inventada ali pelo começo da década de 1980 com o propósito de substituir a Fenaf – a Festa Nacional do Fumo – que já começava a parecer meio esquisita como festa. Como havia o parque, a colonização alemã e as possíveis relações com a festa de Munique, a disposição de fazer uma festa turística e assim por diante, foi lançada a Oktoberfest e assim é até hoje.
Sinceramente, nem me interessa se a festa tem algum traço de autenticidade ou não. A Oktober é uma festa turística, uma grande quermesse (isso sim tem a ver com o que se faz há décadas), muito chopp, comilança, pegação, música sertaneja, bandinhas, uma feira comercial e, talvez, um pouco mais ou um pouco menos.
Se entendermos assim, como uma festa para atrair gente, chamar a atenção para a cidade e movimentar o comércio e afins, está tudo bem. O problema é quando isso ganha status de expressão cultural e começamos a associar nosso orgulho e nossos ímpetos patrióticos às cores da bandeira alemã como algo sério.
Para o bem ou para o mal, não somos a Alemanha. Se fôssemos, muita coisa seria diferente. Teríamos bons serviços públicos para a maioria da população (coisas como transporte público, educação, saúde etc.), segurança pública, um trânsito organizado e com motoristas conscientes. Por outro lado, pagaríamos mais impostos, as leis seriam aplicadas a todos, comeríamos menos carne, nem poderíamos dirigir embriagados depois da Oktober e pencas de políticos nem poderiam se candidatar por conta de suas carreiras medonhas. Poderia, enfim, ser mais chato, mais complicado, não é?
Não nos ufanemos com as cores. Por outro lado, não há porque se lamentar. Temos aqui o nosso jeito de viver que é inevitavelmente brasileiro. Podemos melhorar? Claro.
Parece-me que ter uma visão cultural que não seja segmentada é um bom começo. Fala-se muito em multiculturalismo, mas isso pode simplesmente servir como recurso para darmos vazão às tantas formas sectárias de cultura. Ou seja, um grupo “x” até reconhece a legitimidade da “alemoada” ou da “gauchada”, mas também quer uma fatia da verba pública ou dos patrocínios para as suas festas e manifestações igualmente apartadas e baseadas em passados inventados, idealizados e heróicos.
Questões:
a) Conseguimos viver sem essas identidades isoladas?
b) É possível termos uma visão e um agir mais cosmopolitas?