O trecho abaixo não tem muito a ver com aquilo que ando pesquisando nas narrativas distópicas. No entanto, achei interessante destacá-lo.
Montag é o personagem central do livro e nesse diálogo encontra-se refugiado da sua sua vida como bombeiro rebelde. Quem conversa com ele é Granger, uma das pessoas que ele encontra em sua fuga e que, noutros tempos, fora professor, intelectual e escritor. Na sociedade de Fahrenheit 451 isso não significa mais nada de relevante. Pelo contrário, torna-se um imperativo para a sua eliminação, para o exílio ou para a proscrição do sujeito.
- O que você deu para a cidade, Montag?
- Cinzas.
- O que os outros davam uns aos outros?
- Nada.
Granger parou ao lado de Montag, também olhando para trás.
- Todos devem deixar algo para trás quando morrem, dizia meu avô. Um filho, um livro, um quadro, uma casa ou parede construída, um par de sapatos. Ou um jardim. Algo que sua mão tenha tocado de algum modo, para que sua alma tenha para onde ir quando você morrer. E quando as pessoas olharem para aquela árvore ou aquela flor que você plantou, você estará ali. Não importa o que você faça, dizia ele, desde que você transforme alguma coisa, do jeito que era antes de você tocá-la, em algo que é como você depois que suas mãos passaram por ela. A diferença entre o homem que apenas apara gramados e um verdadeiro jardineiro está no toque, dizia ele. O aparador de grama podia muito bem não ter estado ali; o jardineiro estará lá durante uma vida inteira.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário