quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Rubinho e Jonas (Moisés Mendes)

Resolvi reproduzir o texto do Moisés Mendes da Zero Hora (publicado ontem na coluna do Sant'Ana) por pensar de forma muito semelhante.
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É difícil se acostumar com o século 21. Rubinho pode ser campeão da Fórmula-1, e o Jonas pode ser o goleador do Brasileirão. A Argentina pode ficar de fora da Copa do Mundo. Madonna pode se casar com Jesus. Mas o que melhor expressa essas senhas erráticas do século 21 são mesmo essas façanhas do Rubinho e do Jonas. Rubinho era, até a penúltima chuvarada, um trapalhão que jogava parafusos na testa dos outros. Rubinho era o Didi. Jonas era o Dedé.

Isso pode ser bom, porque revela que todos podem chegar lá. E pode ser ruim, porque favorece a exaltação de que o que interessa mesmo é vencer. Mesmo que seja aos trambolhões. Foi assim que a Alemanha venceu a Holanda em 1974, e a Itália despachou o Brasil da Copa de 1982. Times vencedores e atletas vencedores podem não significar nada, se a vitória não tiver alguma magia. Aqueles times da Itália e da Alemanha não significam nada para o futebol.

A magia do Rubinho e do Jonas pode ser a do patinho feio, ou dos fracos também vencem, ou o sol nasce para todos, inclusive em dias chuvosos. O que não se pode é vencer por vencer. Esse time de vôlei do Bernardinho. Diga rápido quantas vezes esse time conquistou a Liga Mundial? Escale esse time. Sou gremista e sei de cor o time juvenil do Internacional dos anos 70 comandado pelo Falcão. Mas não sei escalar esse time do Bernardinho. Porque falta magia, falta a alma da arte. O time de vôlei é uma máquina de vencer. Time mágico foi aquele que perdeu o ouro e nos trouxe a prata da Olimpíada de 84 em Los Angeles, com Bernard, Renan, Montanaro...

Não é conversa de velho e vou provar que não. Pete Sampras, por exemplo, era há até bem pouco o grande vencedor do tênis. Sampras foi uma máquina de vencer, como o time de Bernardinho. Eu fico com Roger Federer. Quem viu o que Federer fez no último domingo, no confronto com o sérvio Novak Djokovic, no Aberto dos Estados Unidos, sabe do que estou falando. Federer venceu o jogo depois de devolver uma bola perdida pelo meio das pernas. Federer é mágico. Guga era mágico. Sampras era apenas um ganhador de títulos. É pouco.

Tostão, o craque de 70, capaz de tudo para que uma jogada fosse simplificada pelo imprevisível, diz que o futebol se transformou num esporte de esquemas. É bom para vencer, porque tudo na vida agora é vencer. É ruim para o espetáculo e para quem vai ao estádio para ser surpreendido por um lampejo, um só. Anos ruins, sem mágicos, produzem o que aconteceu em 1985, quando Bangu e Coritiba decidiram o campeonato brasileiro. Anos ruins produzem essas deformações. E 1985 foi tão ruim, que seria o ano de Tancredo e foi de Sarney. Agora, 2009 pode ser o ano do Barueri.

Casagrande, o comentarista, disse um dia na TV que gols bonitos feitos em impedimento deveriam ser validados a critério do juiz. Em nome da magia. Eu pego carona na boa ideia. Muitos gols do Grêmio deste ano são vergonhosos. Deveriam ser anulados.

Rubinho ainda tem quatro provas para produzir a magia. Pode vencer na última corrida com dois pneus furados e sem câmbio, como Senna fazia. E o Jonas pode assegurar o título ao Grêmio na prorrogação do último jogo. Com um gol de bicicleta em que a bola bate no travessão e nas costas do goleiro e só entra depois de ricochetear num quero-quero. É dureza depender da magia do Rubinho e do Jonas.

Um comentário:

Observatório de Educação e Biopolítica disse...

Muito bom o texto. Sou obrigado a concordar também. Esse é o mundo dos records e resultados.