As três voltas ao redor da quadra não faziam parte do plano dramático e tão bem ensaiado durante os últimos dois dias. Estacionar muito distante dali poderia, no entanto, enfraquecer a cena. Uma vaga, enfim, a meia quadra do palco se abre como uma cortina. Ele poderá sair da escuridão da coxia. Observa-se no espelho um instante antes de abrir a porta e nota o cenho convicto. A maquiagem da dor continuava ainda bem posta. Abre o porta-malas e tira a bagagem. Caminha seguro e arrasta, sobre rodinhas barulhentas, dois pesos imensos. Um deles envolto por uma imitação de couro marrom e a outra num rosa infantil e sintético. Ele sabe o custo, em cada centavo e segundo, daqueles volumes.
A grande hora: ele abre as portas do escritório com um dos pés e joga as duas malas diante dela. A frase que havia pensado dizer na hora acaba não saindo e ela ouve algo que parece ser “fiquem juntos e sumam”. Os colegas ao redor ficam meio perplexos. Ninguém, de imediato, comenta. Alguns se olham e um ou dois desses olhares dizem um “eu sabia que isso ia acontecer”.
De volta ao carro, lembra de quantos presentes dera a ela, de quantos caprichos havia dependido naqueles últimos sete anos. Seria duro esquecê-la. Ela era linda e, sabia agora, por isso havia se achado no direito de roubar-lhe tudo. Roubara-lhe até a sua frase final: “sua puta, ele vai te abandonar e tu vai acabar sozinha”. Não conseguiu dizer e tampouco acreditou no que disse e no que queria dizer.
...
Ela trabalhou no escritório por mais uns meses. Agia de forma altiva e cheia de si. Agora não trabalha mais no escritório. Abriu uma loja e vive com seu namorado. Fala-se que vivem apaixonados.
...
O homem era só esperança. Exibia aquele sorriso sábio de quem sabe tudo sobre o mundo e de quem possui um segredo que o torna intocável. Ele acreditava que levitava. Dois anos de uma alegria que só não era maior porque, ele tinha certeza disso, o melhor estava por vir. Ele viveria com o seu amor, o amor redentor de uma vida tediosa e cheia de coisas que o desagradavam. A vida de um homem que vê a idade se transformando em algo pouco sutil nas suas palavras, traços e ocupações. Ela era linda e dava-lhe tudo o que o fazia acreditar que a Terra era mesmo o lugar no qual os homens viviam o nirvana da alma. Nos últimos meses o felizardo pusera em marcha um projeto audacioso: uma nova casa. A casa seguia sob a sua supervisão e cada acabamento, aberturas e cores eram decididos entre lençóis, presentinhos e promoções.
Chegaria o dia que a vida de segredos acabaria. Ele estava preparado para a rejeição da família, dos colegas. Ele, afinal, levitava. E o dia havia chegado. Ele viu quando o sujeito das malas entrou no escritório e ficou aflito e esperançoso. As malas jogadas, os olhos furiosos, a frase ríspida que ele não conseguiu decifrar e a saída brusca porta a fora não chegavam a ser as interpretações que ele esperava para a sua “deixa”. Mas era. Ele levantou juntamente com ela e caminhou em sua direção. Seu olhar era de um homem que saberia como encarar os próximos dias. A casa estava quase pronta e o clima no escritório poderia ser contornado. Ele era um homem de posses e poderia cuidar da situação. Haveria conflito e até reprovação. Ele estava pronto para tudo. Confiante - aquilo estava bem ensaiado -, ele disparou sua frase triunfal diante dos colegas: “Agora podemos ficar juntos”. Não foi o que aconteceu.
Duas histórias acabaram ali e uma continuou. Ela vive com o seu namorado.
O homem das esperanças exibe agora um olhar opaco e conta passos pelos corredores. Pensou mil vezes em convidar o sujeito das malas para chorar as pitangas e falar mal daquela puta linda.
sábado, 3 de dezembro de 2011
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Entrevista sobre "Quando o futuro morreu?" no site www.portocultura.com.br
Entrevista sobre "Quando o futuro morreu?" publicada esta semana no portal www.portocultura.com.br. Veja na íntegra.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
quinta-feira, 21 de julho de 2011
terça-feira, 21 de junho de 2011
Mostra do Curso de Fotografia da Unisc na Casa das Artes
No dia 16 de junho, na Casa das Artes Regina Simonis, ocorreu a abertura da Segunda Mostra Fotográfica Revelações. Os 23 alunos da segunda turma da Graduação Tecnológica em Fotografia da UNISC expuseram duas fotos cada um, com temática livre. As fotografias ficarão expostas até o dia 02 de julho. Visitas podem ser realizadas de segunda à sexta-feira, das 10h às 17h, e aos sábados, das 10h às 14h.
A exposição é uma realização da UNISC, Graduação Tecnológica em Fotografia, Departamento de Comunicação Social e Associação Pró-Cultura de Santa Cruz do Sul. O apoio é da System Lab e da Graffite Papelaria e Gráfica Expressa.
Mais informações podem ser adquiridas pelo e-mail fotografia@unisc.br.
Fotos em anexo: Marília Haas (da menina) e Kathiely Watte (borboletas).
A exposição é uma realização da UNISC, Graduação Tecnológica em Fotografia, Departamento de Comunicação Social e Associação Pró-Cultura de Santa Cruz do Sul. O apoio é da System Lab e da Graffite Papelaria e Gráfica Expressa.
Mais informações podem ser adquiridas pelo e-mail fotografia@unisc.br.
Fotos em anexo: Marília Haas (da menina) e Kathiely Watte (borboletas).
sábado, 30 de abril de 2011
quarta-feira, 6 de abril de 2011
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Identidade visual para Loja Bugiganga
Achei um tempo para criar essa identidade visual simplificada para uma loja de presentes que vai abrir em fevereiro na Mal. Deodoro. A loja é de uma antiga conhecida, a Marta, que está entrando no mundo dos negócios.
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