Volto pra casa caminhando. Depois do café e do almoço. Nessa ordem. Caminho lentamente. As calçadas da Floriano tem lá a sua elegância. Agosto finda e há muitas árvores nuas. As tipuanas da Floriano ainda perdem lentamente suas folhas. Elas caem vagarosamente. Deslizam o ar rodopiando. A luz do meio-dia passa pelos galhos pelados e essas folhinhas ovais refletem com delicadeza a luz do sol. O vento sopra um pouco mais forte e muitas folhas tombam. Parecem flocos de neve amarelados. A calçada, as árvores, o caminhar lento das pessoas, tudo fica mais atraente com o espetáculo das tipuanas.
As folhas se amontoam pelo chão e daí nem se acha que as coisas sejam tão elegantes. O charme das folhas encontra calçadas frouxas e irregulares. Amontoam-se com canudinhos, plásticos diversos, sujeira atirada em todos os cantos. Lá se vai toda a elegância.
Há ainda as calçadas nas quais a vida das árvores foi cortada há tempos. Nunca mais voltaram. Por certo permitem que o cidadão possa contemplar a brilhante arquitetura das caixas de concreto que brotam cheias de otimismo e desprezo por qualquer noção de beleza.
Prefiro ficar com o espetáculo das folhas. Uma cidade tem espírito ou essência por coisas assim. Por detalhes que a tornam agradável. Por coisas que tornem nossa memória dos dias em algo aprazível. Não era pra ser um manifesto, mas, reconheçamos, a cada árvore que some das calçadas de Santa Cruz tanto menos interessante a cidade se torna. Tanto menos prazer há nas ruas. Tanto menos nossa identidade urbana é mantida. Tanto menos graça há em flanar pelas calçadas. Tanto menos original nos tornamos. Perdemos vida.